sábado, 15 de março de 2008

“Escolhas”



Certa vez um menino com sede viu um lago perto de sua casa, onde fazia muito calor e muitas vezes faltava água. Que alegria... mergulhou sem nem saber se existiam pedras, peixes venenosos ou qualquer outro perigo. E não tinha mesmo. A não ser uns galhos que podiam arranhar, uns mosquitos, coisas suportáveis e irrelevantes frente à beleza do lago.
Esse lago passou a ser o seu brinquedo preferido. Todos os dias ele ia pra lá e rezava sempre pra que ele (o lago) nunca secasse. Cada dia encontrava uma flor mais bonita, um bichinho diferente, um peixe mais colorido. A água que o lago lhe dava era limpa... fresca... e era muito bom ir lá só pra olhar, refletir ou se acalmar nas horas em que estava chateado.
Levou alguns amigos para conhecer, mas gostava mesmo de ir lá sozinho. E ficava com medo que as pessoas não cuidassem bem dele, maltratassem, sujassem. Então só levava pessoas de confiança a quem queria dar um presente. O presente era o lago. Sentia-se um pouco invadido, mas sabia que as outras pessoas também tinham direito ao lago. Podiam banhar-se também.
Um dia o menino viu uma borboleta diferente voando sobre as árvores que ficavam um pouco depois do lago, não dava pra ver muito bem, mas chamou sua atenção. Foi até ela. E, chegando lá, viu que ela era bem mais bonita do que imaginava. Tentou se aproximar, mas ela voou mais pra longe. E ele atrás. E seguiu a borboleta até, sem querer, pisar numa poça d’água. E quando olhou viu que não era uma poça, era outro lago, tão impressionante quanto o outro. Ficou num misto de alegria e dúvida. Não sabia se mergulhava ou se voltava pro “seu” lago. Sentou-se para pensar:
“Poderia mergulhar e ver se era tão legal quanto o outro ou poderia mergulhar e bater a cabeça nas pedras. E podia não ter pedras também. E tinha a vantagem de ninguém saber daquele lago novo.”
Pelo menos ninguém que ele conhecia.
Mas ele viveu tantas coisas boas no outro lago... e nem tinha visto tudo no outro ainda! Ficou triste. Queria mergulhar, mas tinha medo. Queria voltar, mas tinha medo também. E se não conseguisse voltar e ficasse perdido no caminho? E se depois de voltar ele esquecesse o caminho do lago novo? E se depois de mergulhar ele batesse a cabeça numa pedra?... E se depois de voltar, o primeiro lago tivesse secado?... E se depois de ficar ele sentisse saudades?... e se depois... e se depois... e se depois...
Ficou ali... sentado.



ELAINE SANTANA
JULHO DE 2007

2 comentários:

Unknown disse...

Elaine, adorei os seus textos!É tão menina e tão... ah! não sei explicar!Mas gostei!Parabéns viu?

Cissa Guimarães disse...

Adorei a mensagem , já passei por isso mas tive borboletas que me guiaram , mas não bastou só as borboletas para me guiar também tive força pra não ficar parada e não sentar na pedra e tal.Bom mas todos tem a chance de voltar ou tentar mergulhar em um novo lago.Vejo que a cada dia os contos,as poesias, as mensagens continuam melhores ..Continue assim torço sempre por você minha borboleta.