sábado, 15 de março de 2008

Momento infinito


Fitava-o. E era a única coisa que queria e conseguia fazer naquele momento. As palavras vinham e iam com a mesma velocidade. E fitava-o com uma sede, uma coragem, um quase desespero de vê-lo naquela hora. De vê-lo, de simplesmente vê-lo e mais nada. Talvez um pouco mais, mas nada tão libidinoso que viesse a quebrar esse...esse... esse sei lá o quê que estava acontecendo. Via-o e isso era a única coisa que importava no momento. Era vê-lo e saber que estava ali. Estar certa que estava ali, na sua frente. E que ele existia, e que não precisava mais perguntar se enlouquecia, nem esperar mais.
Teve certeza; ali, exatamente ali, que tudo tinha valido a pena. Os anos de espera, o coração apertado... ele existia! Simplesmente existia! E era de verdade!
Era gente. Falava, comia, chorava como todo mundo. E foi aí que a garotinha apareceu. A mesma que falou com Papai Noel pela primeira vez no shopping e teve certeza que tudo que suas amiguinhas diziam era mentira, que valeu a pena acreditar mesmo quando todas elas já tinha descoberto que ele não existia. A garotinha que ouvia estórias de Cinderela, Bela adormecida e outras tantas princesas, só pra ouvir a parte que o príncipe chegava a cavalo e salvava a princesa e os dois viviam felizes para sempre.
Tinha a noção de que ele não era príncipe, que não vinha a cavalo, mas que lhe fizera reviver época sagrada de sua vida. Que estava ele ali, ele mesmo! Tentando a todo custo se esconder, mas aparecendo aos poucos e encantando-a a cada milésimo que passava, a cada lágrima que segurava, a cada letra pronunciada.
Tentou, por várias vezes, falar também, mas algo acontecia que trancava o diafragma e o máximo que conseguia era respirar, olhar e... e... esse diabo de coisa que ela ainda não sabia o que era.
E a garotinha saltitava, ria, corria, sorria, cantava, rodava, subia e descia. E ela ali, parada, extasiada, talvez atônita por descobrir o que acontecia. Por ver que era melhor que brincar de pega-pega, melhor que pipoca doce com leite condensado, melhor que chocolate!
Tentou até chorar (e se conseguisse isso sim, caberia no momento). Mas essa coisa... essa tal coisa não deixava que as lágrimas caíssem.
A menina girava, girava, girava, girava, girava e girava cada vez mais, como o brinquedo que adorava brincar no parquinho com Laurinha, sua amiga, no tempo de criança. Girava... e tanto que anulava a gravidade. Flutuava...
As palavras continuavam a vir e voltar, mas não as ouvia, não piscava, não pensava, não percebia nada. Só fitava com a atenção precisa para não deixa-lo se mover um milímetro para longe. Era quase um amor... amor!... meu Deus! É isso! Era amor! Essa coisa, esse diabo dessa coisa maluca, confusa, boa... era amor! Então gire! Que gire, brinque e salte menininha! Seja feliz! Ame! Ame! Ame! Ame! Ame! Ame!
E o beijou. O beijou, talvez não com tanto desejo como das outras vezes, mas com uma vontade imensa de ter certeza que não sonhava, de que não era delírio, não era fascinação. O beijou com todo, mas com todo o grande, imenso, absurdo, estúpido, bonito e ridículo (porque ele nunca deixará de ser ridículo) amor que acabara de descobrir e que lhe assaltava.
Lágrimas invisíveis correram sobre as suas faces. E só Deus sabe quanto tempo durou aquele momento...


Setembro de 2005

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